"Percebam que este mundo é impermanente, que as nações são inseguras e instáveis (Buddha)
A idéia de impermanência é o alicerce da explicação que o Buda oferece para a vida neste mundo. De acordo com seus ensinamentos, tudo muda, nada permanece.
A ênfase por ele colocada na impermanência não se  destina a nos desencorajar, mas a nos fazer perceber a verdadeira  natureza da existência - cujas características são chamadas de "Três  Selos do Dharma". Compreendendo que tudo é impermanente, agiremos de  forma diferente da que se inspira na crença equivocada de que este mundo  não está sujeito a mudanças constantes.
Assim o Buda conclui o Sutra do Diamante:
Todos os fenômenos assemelham-se a sonhos, bolhas, sombras. São como orvalho, como relâmpago. Como tal devem ser contemplados.
Sem exceção, são de impermanência as imagens empregadas nessas tão famosas seqüências de metáforas. Comparando todos os fenômenos a sonhos, bolhas, sombras, orvalho ou relâmpago, o Buda diz, em imagens, que todos os fenômenos mudam e o fazem rapidamente.
 Sonhos vêm e vão, bolhas  explodem, o orvalho evapora ao sol, os relâmpagos iluminam por um breve  instante. Nada permanece igual. Tudo muda. No Sutra da Grande Sabedoria,  o Buda diz:
Este mundo é impermanente. É como o reflexo da lua  na água. Todas as nossas realizações serão devastadas pelos ventos da  mudança.
Essa declaração tampouco pretende nos desanimar. É a pura verdade. O reflexo da lua na água é lindo; podemos admirá-lo enquanto durar, mas não há como considerá-lo permanente.
Causamos nosso próprio sofrimento ao nos aferrar aos fenômenos deste  mundo, que são, por natureza, evanescentes. "Tudo é devastado pelos  ventos da mudança."
Uma antiga história ilustra muito bem a importância de aceitarmos a mudança.
Era  uma vez, na época do Buda, uma abastada senhora cujo filho único  morrera repentinamente. Tal foi sua agonia pela perda do filho que ela o  tomou nos braços e saiu pelas ruas, em desespero, perguntando a quem  quer que a ouvisse se havia algum meio de trazer a criança de volta à  vida.
As pessoas olhavam-na com tristeza e respondiam meneando a  cabeça negativamente. Até que alguém lhe sugeriu que procurasse o Buda:  "Talvez ele possa ajudá-la". Seguindo o conselho, a senhora acorreu ao  local onde estava o Buda e perguntou se ele poderia ajudá-Ia.
O  Buda respondeu: "Para salvar essa criança, são necessárias quatro ou  cinco sementes de mostarda. Você deve obter essas sementes de uma  família que jamais tenha conhecido a morte”.
A mãe correu de  volta às ruas e de casa em casa foi perguntando quem poderia lhe dar  algumas sementes de mostarda. As sementes em si não eram problema, mas  ninguém poderia dizer que sua família jamais conhecera a morte. Ela  terminou por desistir de sua busca e voltou a ter com o Buda. Nesse  segundo encontro, percebeu a profunda compaixão de seu olhar, o que a  levou a compreender que nada é permanente e todos morrem. Por fim,  estava pronta para abrir mão de seu inútil apego a uma criança que já se  fora.
As pessoas mudam, os fenômenos mudam. Nossos pensamentos,  sonhos, sentimentos, idéias, vida estão sempre em transformação. Nada  permanece inalterado.
O Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria (Maha Prajna Paramitta) explica que as mudanças ocorrem de duas maneiras: a cada instante e de forma contínua durante períodos mais longos. O vento sopra, sons vêm e vão, nosso coração bate, os olhos piscam - todas as coisas em nós e ao nosso redor mudam a todo instante.
  Transformações contínuas também são evidentes em torno de nós, mas,  para percebê-Ias, é necessária certa contemplação. A mudança sucessiva  significa a acumulação de transformações ocorridas em elementos que  costumamos considerar duradouros no tempo, como um país, uma formação  geológica, uma equipe esportiva, um modo de fazer, uma língua.
Com  o passar dos anos, um vasto número de mudanças pontuais vão se  acumulando em tais entidades. Até que um dia, já não têm nenhuma  semelhança com seu estado original. A erosão da orla marítima ou a  evolução das espécies são bons exemplos de mudança sucessiva. No curto  prazo, as transformações não são perceptíveis, mas podem ser  consideráveis em longo prazo. Ao dizer que as nações são inseguras e  instáveis, o Buda alude à noção de mudança sucessiva.
O  Madhyanta-vibhaga-tika diz que é possível compreender a mudança como  algo universal a todos os fenômenos quando se percebe que nenhum deles é  autônomo. Todos os fenômenos dependem uns dos outros; portanto, quando  um se transforma, todos mudam.
Uma vez convencidos de que todas as coisas  mudam, podemos utilizar tal informação de duas formas: empregá-Ia em  nossa preparação para aceitar o inevitável e para nos inspirar a ter uma  atitude esperançosa e positiva em relação ao futuro.
A maioria das pessoas fica deprimida ao contemplar a verdade da impermanência, porque pensa apenas no fim das coisas boas.
A maioria das pessoas fica deprimida ao contemplar a verdade da impermanência, porque pensa apenas no fim das coisas boas.
Entretanto, assim como coisas positivas  podem se transformar em negativas, estas se transformam em positivas. A  mudança nos livra de situações difíceis, alivia-nos de preocupações. É o  processo pelo qual podemos nos transformar em budas. Sem mudanças,  nunca evoluiríamos."








