"Era um dia bonito. O céu estava claro e a temperatura     suavemente agradável, de modo que o sábio resolveu dar uma volta.
     
Por acaso, seu passeio o conduziu até uma casa luxuosa,     que pertencia a um homem rico que o sábio conhecia bem. Em sua frente havia um belo     jardim com muitas flores exóticas importadas de terras distantes.
     
À medida que o sábio se aproximava, viu que muitas     dessas flores estavam no auge do florescimento. Ele ficou     maravilhado pela sua beleza. As cores eram tão vivas e brilhantes que pareciam se separar     das pétalas em seu esplendor.
     
O sábio se maravilhou     com a habilidade humana que foi capaz de transplantar estas flores de tão longe -     provavelmente de algum paraíso tropical que ele nunca visitara.
     
Ele ficou alguns minutos saboreando a vista. Respirou     fundo para sentir a flagrância. Depois de algum tempo, suspirou     discretamente e seguiu seu caminho.
     
O sábio pensou sobre o homem rico. Há pouco tempo ele     adoecera seriamente. Como eram amigos há muito tempo, o sábio     estava muito preocupado.
     
O médico dissera que a doença foi causada por stress.     O homem estava sujeito a muita tensão ao administrar seu negócio. O negócio era a     origem de sua fortuna, mas ele pagou um alto preço por ele – sua saúde.
     
O problema era que o homem insistia em fazer tudo     pessoalmente, assumindo cada vez mais responsabilidades. À medida que as pressões     aumentavam, perdeu o apetite e não conseguia mais uma boa noite de sono. Estava sempre     cansado e perdera o interesse pelos prazeres simples da vida.
     
O homem tinha ignorado o jardim por muitos anos. Ele     não tinha tempo, energia e disposição para passear entre as belas flores de seu     próprio jardim.
     
De repente, a ironia da situação se tornou manifesta.     O homem rico tinha o jardim, mas não podia apreciá-lo. O sábio não o possuía, mas era     capaz de desfrutá-lo plenamente.
Um dos erros mais comuns da vida envolve a relação da     felicidade com o possuir e o desfrutar. 
     
Esta confusão acontece porque usualmente imaginamos que     devemos possuir para desfrutar. Compramos um DVD para ver filmes, um estéreo     para ouvir música. Possuir e desfrutar parecem andar juntos, e assim pensamos que são     correlacionados.
     
Na verdade, os dois são independentes. Apenas um deles     está associado à felicidade, e não é a posse. O possuir não só é desnecessário     para o desfrutar, como pode ser um obstáculo. Mas muitas pessoas não pensam assim, e     associam a felicidade mais ao possuir do que ao desfrutar – exatamente o oposto da     realidade.
     
Por exemplo, conheço uma senhora que associa a aquisição     de jóias à felicidade. Ela ama anéis, colares e braceletes. Ela tem muitos, mas nuca os     usa, por medo de perda ou roubo. A coleção é muito preciosa para ser posta em risco! 
     
Ela só fica realmente feliz imediatamente antes e depois     de uma aquisição. Comprar jóias lhe dá um fugaz momento de excitação, seguido pelo     volta do desejo de comprar, levando-a implacavelmente a uma nova     compra.
     
Você provavelmente conhece alguém assim. Talvez um     aficionado por carros antigos, que tem um na garagem. Não poupa esforços para consertos     e ajustes, nunca se cansa de limpar e polir, mas nunca o dirige. 
     
Ou então alguém que tem uma vasta coleção de     gravações de músicas, mas ouviu apenas uma pequena fração delas. Por que? Porque     está muito ocupado procurando novos Cds para a coleção.
     
Talvez você conheça alguém que acabou de mobiliar a sala     com sofás e almofadas novas, num tecido da moda, e as mantém cobertas com capas     plásticas, porque não quer os móveis novos fiquem manchados, ou sequer empoeirados. Quando você a visita e senta em sua sala, está sentando     literalmente em móveis de plástico, e tem de ser cuidadoso com seus movimentos para não     causar muito barulho.
     
Ou então tem um conhecido com um relacionamento baseado em     possuir o outro, em lugar de apreciá-lo. Você sabe que o relacionamento vai fracassar se     continuar nesse caminho.
     
Pode ser que o elemento comum em todos os exemplos acima é     a ênfase em possuir em lugar de desfrutar. Se olhar à sua volta com espírito     observador, verá muitos outros exemplos.
     
Quando olho para minhas estantes vejo muitos livros de meus     autores favoritos. Cada um é uma bela flor de sabedoria, esperando para ser saboreada. O     que eu já possuo é um jardim cheio com essas flores, mas da mesma forma que o homem     rico, estou negligenciando-o. Em lugar de desfrutá-lo, continuo indo às livrarias para     comprar outros. A aquisição contínua tornou-se um hábito.
     
Fazemos um enorme favor a nós mesmos quando quebramos esse     padrão habitual. O tempo e a energia que desperdiçávamos antes agora estão liberados     para que possamos usar e desfrutar aquilo que já temos. Com isto, melhoramos a qualidade     da vida e tomamos a chave da felicidade em nossas mãos.
     
Há muitos “jardins” em sua vida. Pode-se possuir     alguns ou muitos deles, mas este é um detalhe sem importância. O que é importante     – e a única coisa importante – é que você pode desfrutá-los se realmente     quiser. 
     
Vamos dirigir nossa atenção para as flores desses     jardins. Quando respira sua flagrância e se contempla suas cores brilhantes, você não     pode senão se maravilhar com milagre da existência humana. É um milagre que trouxe uma     parte do paraíso celestial para o plano mortal. É o Tao."
Autor:Derek Lin
Fonte:http://www.taoism.net