"A vida nos convida à dança.
Nesta dança, há um convite explícito para trabalharmos os opostos. É fácil de aprender.
É só observar os sinais e ficar atento aos passos e, então tentar através do compasso e descompasso, adquirir leveza para lidar melhor com os percalços da vida.
Crise……ai que coisa mais incômoda, dolorida, que nos tira do prumo, que mexe conosco e faz tudo ficar fora do lugar.
Assim pensamos e ingenuamente, temos a tendência de considerar o fluxo de nossa vida como algo seguro, regrado, “imexível”, como se pudéssemos direcioná-lo e administrá-lo com total controle; sem abalos, sem mudanças, amarrados a um “porto seguro”. Uma vez Iludidos com esse panorama seguimos nosso caminho sem nos aperceber que, muitas vezes, a estrutura atual não serve mais, não tem mais função, caducou, precisa ser renovada, ou seja, precisamos abandonar o nosso “porto seguro” para que ele seja reestruturado. É nesse momento que a crise vem.
Claro que a crise não é nenhuma “belezura”, nada agradável, ela traz consigo sentimentos conflituosos e dolorosos, simplesmente porque não conseguimos vivenciá-la favoravelmente, de forma natural e positiva.
Apesar de entendermos a crise como uma tormenta, um obstáculo que nos estanca, ela é paradoxalmente, uma ocasião de crescimento, uma oportunidade. É um momento de reavaliação, reflexão, amadurecimento de idéias, compreensão dos ciclos, desapegos e principalmente de aprendizagem. Isto quer dizer que, não há aperfeiçoamento sem crise!
Os chineses representam bem a palavra crise em dois ideogramas: um significando perigo e o outro simbolizando oportunidade, mostrando essa relação oposta e ao mesmo tempo complementar, onde perigo se torna uma oportunidade.
Outra coisa importante a ser lembrada em relação á crise é que ela é eterna. Passaremos a vida envoltos em desestruturação e reestruturação…..faz parte da vida, é algo natural
Então, Estruturar e Desestruturar,
Equilibrar e Desequilibrar,
eis a Dança da Vida.
Muitas pessoas resistem à crise, ao enfrentamento do conflito. Vão negando, fingindo que o problema não existe, colocando a culpa nos outros, tocando a vida como se não fosse com elas, como se nada tivesse acontecido. Apesar dessa dissimulação, o conflito continua presente e vai aparecer em algum momento. Uma vez iniciada a crise, não existe possibilidade de voltar aos padrões antigos.
A não aceitação da crise nos torna mais vulneráveis a ela. Permite com que a ameaça interna se torne mais forte do que realmente é, o conflito se reforça, surgindo os sentimentos de angustia, medos, ansiedades, frustrações, etc… levando-nos a um caos desestruturante.
O caos nos coloca para baixo, mas ao mesmo tempo, permite que reflitamos sem dissimular o conflito. Não há mais como dissimular, o mundo caiu, o conflito está ali na nossa frente, sem máscaras, pronto para ser digerido.
Lembre-se: o caos precisa ser respeitado, cada pessoa tem o seu tempo de desestruturação, de desconstrução para depois iniciar uma nova construção. É necessário honrar aquele momento de dor. É um período de questionamentos, do que fazer, do que vale a pena ou não, do que abrir mão, do que ….do que…..É a morte da inércia. Nessa digestão da crise, as idéias começam a se flexibilizar e já existe a possibilidade de mudança.
Esse momento é crucial, talvez um dos mais importantes do processo. Quando vemos alguém no auge de crise, a primeira coisa que vem a cabeça é tentar tirá-la dessa situação, oferecendo-lhe oportunidades de distração. Esse é um erro gravíssimo, pois é nessa fase que a pessoa precisa estar com ela mesma, sem distração, esvaziando-se. É no vazio que está a possibilidade de tudo…. é na ausência, que se consegue algo significativo.
Um pequeno trecho do livro Perdas e Danos de Lia Luft, retrata bem essa situação:
“Não vou me alegrar jantando fora quando perdi meu amor, perdi minha saúde, pedi meu amigo, perdi meu emprego, perdi minha ilusão…perdi algo que dói, seja o que for. Então, por um momento, uma semana, um mês ou mais, me deixem sofrer. Permitam-me os lutos no período sensato. Me ajudem não interferindo demais. O telefonema, a flor, a visita, o abraço, sim, mas, por favor, não me peçam alegria sempre e sem trégua.”
Uma vez vazia, a pessoa pode colocar em uso a sua capacidade adaptativa. Esta é a arte de transitar entre o passado e o presente sem se perder: observando as lições do passado e recriando novas possibilidades para o presente.
Muitas vezes a nossa reserva emocional, por si só, não é suficiente para enfrentarmos situações difíceis como as de crises. Quando isso se torna insuficiente a terapia Floral entra como um recurso a mais reforçando a reserva enfraquecida."
por: Sonia Parucker