5 de maio de 2015

A Atenção Plena por Thich Nhat Hahn


"Cada vez que sentimos uma forte onda de medo, raiva ou ciúme, podemos fazer algo para cuidar dessa energia negativa para ela não nos destruir. Não é preciso haver nenhum conflito entre um elemento e outro de nosso ser. 

Tem que haver apenas um esforço para cuidar e ser capaz de transformar. Precisamos ter uma atitude não violenta para com o nosso sofrimento.
Quando temos uma emoção forte como o medo ou desespero, pode ser esmagador. Mas com a prática, sabemos que podemos aprender a abraçar o nosso medo, porque sabemos que em cada um de nós existe a semente da atenção plena.

Se praticarmos tocar essa semente a cada dia ao andar,sentar, respirar, sorrir ou comer, cultivaremos a energia da atenção plena. E então, a qualquer hora que precisarmos dessa energia, será só tocar a semente de atenção plena, que logo a energia de plena consciência virá e poderemos usá-la para abraçar as nossas emoções. 

Se conseguirmos apenas uma vez fazer desta forma, teremos um pouco mais de paz e menos medo que a emoção forte da próxima vez venha à tona.

Suponha que você tem um monte de dor, tristeza ou medo no fundo de sua consciência. Muitos de nós têm grandes blocos de dor e sofrimento nas profundezas de nossa consciência que não podemos mais olhar. Temos que nos manter muito ocupados para garantir que esses hóspedes indesejáveis ​​não venham e nos façam uma visita. Nós nos ocupamos com outros "convidados" - pegamos uma revista ou um livro para ler, ligamos a televisão, ou tocamos uma música. Nós fazemos tudo o que podemos para preencher a nossa atenção com alguma coisa.
 Essa é a prática de reprimir.

A maioria de nós adota essa resposta, o embargo. 
Nós não queremos abrir a porta para que o nosso medo, tristeza e depressão cheguem, por isso, trazemos todos os tipos de coisas para nos ocupar. E há sempre muitas coisas disponíveis para ajudar a nos distrair do que está acontecendo lá dentro. Há muitas maneiras de podermos nos entreter, especialmente assistindo televisão. A televisão pode ser usada como uma espécie de droga. Quando o sofrimento em nós é grande demais para suportarmos, às vezes, ligamos a televisão para nos esquecermos da nossa dor. Ela enche a nossa sala de estar com imagens e sons.

Quando você tem energia de atenção plena suficiente, pode olhar profundamente para qualquer emoção e descobrir a sua verdadeira natureza. Se você puder fazer isso, será capaz de transformar a emoção.

Mas a emoção é apenas uma emoção. Ela vem, permanece por um tempo, e então ela vai embora. Por que devemos nos ferir ou aos outros apenas por causa de uma emoção? Somos muito mais do que as nossas emoções.

Se sabemos como praticar o olhar em profundidade, seremos capazes de identificar e erradicar as fontes de nossas emoções dolorosas. Apenas praticando abraçar as emoções já pode ser muito útil.

Quando conseguimos sobreviver a emoções fortes, experimentaremos uma paz mais sólida da mente. Uma vez que temos a prática, já não estaremos com medo. A próxima vez que surgir uma forte emoção, já será mais fácil." 

Um comentário:

  1. Agradam-me os valentes, mas não basta ser uma boa espada. É preciso saber também a quem se fere. E muitas vezes mais valentia em se abster e passar adiante, a fim de se reservar para um inimigo mais digno. Por isso ha muitos adiante dos quais deveis passar; sobretudo ante a canalha numerosa que vos apedreja os ouvidos, falando-lhe dos povos e das nações. Livrai os vossos olhos do seu “pro” e do seu “contra”. Ha ali muita justiça e injustiça. Ver tal coisa revolta. Ve-la é investir, é tudo a mesma coisa. Ide-vos pois ao bosque e dai paz a vossa espada. Segui os vossos caminhos. E deixai os povos e nações seguir os seus. Caminhos escuros, na verdade, aonde já não trilha nenhuma esperança. A sociedade humana é uma tentativa. Não um contrato.

    Já não é tempo de reis. O que se chama povo merece rei. Olha como as nações imitam agora os vendedores ambulantes. Aproveitam as menores utilidades em todas as varreduras. Espiam-se, espreitam-se e é a isso que chamam de politica de boa vizinhança. Se os povos tivessem o pão de graça, atrás de quem andariam a gritar? Em que se ocupariam se não fosse da sua subsistência? E é necessário terem uma vida rigorosa. São aves de rapina. No seu trabalho também ha roubo. No seu lucro também ha astucia. Por isso devem ter vida rigorosa. Devem pois tornar-se melhores animais de rapina, mais finos e astutos, animais mais semelhantes ao homem porque é o melhor animal de rapina. O homem arrebatou já as suas virtudes a todos os animais. Por isso de todos os animais é o que tem tido a vida mais dura. Só as aves estão acima dele. E se ele aprendesse a voar a que altura voaria a sua rapinagem!

    Pergunto: Em quem se encontra o maior perigo do futuro humano? Não é nos bons e nos justos? Nos que dizem e sentem no seu coração: nós sabemos já o que é bom e justo, e possuimo-lo. Desgraçados dos que ainda querem procurar aqui. E por muito mal que os maus possam fazer, o que fazem os bons é o mais nocivo de tudo. E por muito mal que os caluniadores do mundo possam fazer, o que fazem os bons é o mais nocivo de tudo. Alguém olhou uma vez o coração dos bons e dos justos, e disse: “São os fariseus”. Ninguém, porem, o entendeu. Os bons e os justos mesmos, não o deviam compreender: o espirito deles é um prisioneiro da sua consciência. A verdade, porem, é esta: é forçoso os bons serem fariseus. Não tem escolha. É forçoso os bons crucificarem o que inventa a sua própria virtude. É esta a verdade.
    Outro que descobriu o seu pais – o pais, o coração e o terreno dos bons e dos justos – foi aquele que perguntou: “A quem odeiam mais?”
    O criador é quem eles mais odeiam. Aquele que quebrar tabuas e estranhos valores, ao destruidor, a esse é quem chamam de criminoso. Que os bons não podem criar... São sempre o principio do fim.
    Crucificam aquele que escreve novos valores em tabuas novas. Sacrificam para si o futuro. Crucificam o futuro inteiro dos homens. Os bons sempre o principio do fim. Os bons ensinaram-vos coisas enganadoras e falsas seguranças. Nascestes entre as mentiras dos bons e haviei-vos refugiado nelas. Os bons falsearam e desnaturalizaram radicalmente as coisas. O homem é o mais cruel de todos os animais. Vivem satisfeitos na terra, assistindo a tragédias, crucificações, a lides de touros, violência social, policial e de Estado. E quando inventou o inferno foi esse o seu céu na terra. Como é pequeno o pior e o melhor do homem! Quereis vos curar? Cura a tua alma com cantos novos, para poderes sustentar o teu grande destino, que ainda não foi destino de ninguém.


    From "And thus spoke Zarathustra

    ResponderExcluir

Linkwithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...