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26 de janeiro de 2011

O Cultivo da Tranquilidade - de Sílvia Lucia de Oliveira

 "É Mais Eficaz Avançar Passo a Passo.        
“Não faz nenhuma diferença o que nós fazemos;
o que importa é como nós fazemos qualquer coisa.
E como sempre há algo sendo feito, nós sempre
temos a oportunidade de fazê-lo corretamente.”
Robert Crosbie
O tempo parece-nos na maioria das vezes curto o suficiente para justificar a agonia de fazer tudo rápido, de um jeito qualquer, dispensando caprichos e reflexões que exigiriam mais alguns minutos. Escoando no atropelo, vamos alinhavando uma vida sem debruns e acabamentos. Deixa-se de lado o que parece à primeira vista ser dispensável, utilizando um critério de escolha que prioriza rapidez e sacrifica todos os demais quesitos. E sobe a pressão arterial aos solavancos de um viver turbinado de afazeres.
 
Fazemos as coisas sem nelas pensar, sem que nossa mente se permita sedimentar decisões, questionar sentidos e significados. Muito do estresse cotidiano e de suas conseqüências pessoais e coletivas é fruto desse tocar a vida ao ritmo de urgências fabricadas. A agitação física e mental estabelece um turbilhão de pensamentos simultâneos que turvam a atenção e sobrecarregam nosso sistema de raciocínio. Cansamo-nos mais, atrapalhamo-nos desejando abarcar vários assuntos num só ato. E pior, prosseguimos deixando coisas caírem pelo apressado caminho de nossa existência.
 
Entretanto, por mais que sejam atravessados momentos ou situações agitadas, a mente tranqüila sempre será mais capaz de buscar e encontrar as melhores alternativas, abreviando esforços e frustrações. Nossas ocupações podem ser adequadamente cumpridas na cadência dos dias, sem a necessidade de nos preocuparmos com o que possa eventualmente deixar de ser feito. O tempo mostrará se o que foi deixado para trás fará ou não falta. Na maioria absoluta das vezes, as pequenas falhas cotidianas não se transformarão em perdas irreparáveis.
 
Podemos fazer muitas coisas se nos permitirmos dar um passo de cada vez, um após o outro, sem nos desviarmos de metas propostas e procurando sempre a melhor forma possível. Com o pensamento liberto das pressões desnecessárias, conseguimos olhar a vida saboreando suas cores, seus sabores e principalmente estabelecendo importância adequada a cada momento.
 
A tranqüilidade é o fruto maduro de uma atitude de viver caprichosamente germinada nos pequenos atos e nas situações banais do dia a dia. Tranqüilidade se cultiva, com zelo e cuidado persistentes; não se compra pronta e nem se engole em cápsulas. Quando se alcança tal equilíbrio, se descobre uma serenidade profunda e duradoura, jamais conquistada com a química dos remédios.
 
Retornando às palavras iniciais de Crosbie, o que importa na vida é o modo como fazemos as coisas, independente de serem simples ou complexas; rotineiras ou não. O fundamental é caprichar, fazer bem feito e, como a pressa sempre foi inimiga da perfeição, manter sempre a calma e a preservar a tranqüilidade."                                                 

Silvia Lúcia de Oliveira
Fonte:http://www.filosofiaesoterica.com/
Obs:A crônica acima foi publicada inicialmente na edição de 15 de maio de 2010  do jornal 'Agora', em Rio Grande, RS.

15 de agosto de 2010

Quando chega a hora e não dá mais tempo para recomeçar!!


"Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco. Estava cansado porque na noite anterior fora se deitar muito tarde. 
Também não havia dormido bem. Tinha sido um sono agitado. 
Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.

Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente. 
Não prestou a atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado de noites mal dormidas. Nem se quer percebeu um aglomerado de pêlos teimosos que escaparam da lâmina de barbear.
" A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher ", pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.

Elogiou o café e saiu resmungando baixinho um " bom dia ", sem convicção. Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de despedida. Não notou que os olhos dela guardavam a doçura da mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento. Não entendia porque ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo para ficarem juntos. Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Isso não bastava ?

Claro que ele não teve tempo de esquentar o carro nem sorrir quando o cachorro, alegre, abanou o rabo. Deu a partida e acelerou. Ligou o rádio, que tocava uma antiga canção de Roberto Carlos, ''Detalhes tão pequenos de nós dois...''
Pensou que não tinha mais tempo de curtir detalhes tão pequenos da vida. Anos atrás, gostava de assistir o programa de Roberto Carlos nas tardes de domingo. Mas isso fazia parte de outra época, quando podia se divertir mais.

Pegou o telefone celular e ligou para sua filha. Sorriu quando soube que o netinho havia dado os primeiros passos. Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia para ver o neto e o convidou para almoçar, mas não podia, naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa. Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível. Quem sabe no próximo final de semana? Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de estar com ele na hora do almoço. Mas ele foi irredutível: realmente era impossível.

Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas. A agenda estava totalmente lotada, e era muito importante começar logo a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoa de valor não desperdiçam seu tempo com conversa fiada.

No que seria a sua hora de almoço, pediu para secretária trazer um sanduíche e um refrigerante diet. O colesterol estava alto, precisava fazer um check-up, mas isso ficaria para o mês seguinte. Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da tarde. Nem observou que tipo de lanche estava mastigando.

Enquanto relacionava os telefonemas que deveria dar,sentiu um pouco de tontura, a vista embaçou. Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os mesmos sintomas, de que estava na hora de fazer um check-up. Mas, ele logo concluiu que era um mal estar passageiro, que seria resolvido com um café forte sem açúcar.

Terminando o " almoço ", escovou os dentes e voltou à sua mesa. " A vida continuava ", pensou. Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a cumprir. Nem tudo saía como ele queria. Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o prometido. Afinal, ele estava sendo pressionado pela diretoria. 
Tinha que mostrar resultado. Será que o gerente não conseguia entender isso ?

Saiu para a reunião já meio atrasado. Não esperou o elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus. Parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no miolo da terra, e não no subsolo do prédio.

Entrou no carro, deu a partida e, quando ia engatar a primeira marcha, sentiu de novo um mal estar. Agora havia uma dor forte no peito. O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro desapareceu e ... os outros carros também... Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto, tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo que surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem. Era como se o videocassete estivesse rodando em câmera lenta. Quadro a quadro, ele via a esposa, o netinho, a filha e, umas após outras, todas as pessoas que mais gostava.

Porque mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto ? 
O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, hoje de manhã? Por que não foi pescar com os amigos no último feriado ? A dor do peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo: a dor do arrependimento.

Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte; a da coronária entupida ou a de sua alma rasgando.
Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e de seus olhos escorrerem lágrimas silenciosas. Queria viver, ter mais uma chance, queria voltar para casa e beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto...
Queria... Queria... Mas, não havia mais tempo"...

Autor desconhecido

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