"Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia, define a escritora Adriana Falcão no livro "Mania de explicação". A consciência de saber que algo errado foi feito faz parte de algumas situações da vida. Viver sem culpa seria humanamente impossível. Porém, quando a autorrepreensão torna-se constante, é preciso tomar cuidado, pois ela pode acarretar doenças no corpo.
Segundo Jarbas Delfino dos Santos, presidente da Sociedade de Hipnose Médica do Estado do Rio de Janeiro (Sohimerj), a culpa geralmente vem acompanhada de abatimento, apreensão e angústia. "O principal sintoma no caminho da patologia é o hábito diário de reprimir a si próprio. Quem se sente culpado tem dificuldade de sentir prazer. A pessoa fica introspectiva e triste, podendo até ficar deprimido", afirma Jarbas.
Ele explica que esse sentimento age no corpo através do sistema límbico, que representa a base anatômica e fisiológica da emoção, que nada mais é do que uma energia que se movimenta a partir de uma sensação ou pensamento. "Sabemos que a emoção interiorizada se torna sentimento, e exteriorizada se torna ação ou reação", define o hipnólogo.
Jarbas acrescenta que quem sente culpa não vive o momento presente. Torna-se um prisioneiro do passado. Por isso, o indivíduo fica vulnerável à ansiedade e a medos imaginários. "Geralmente, esses pacientes apresentam sintomas cognitivos tais como baixa autoestima, expectativas negativas, excessiva autocrítica, indecisão e autoimagem distorcida", pontua.
A hipnose é um caminho para quem pretende se livrar da autorrepressão, ou trabalhar alguma situação em que ocorreu esse sentimento. "A culpa está relacionada a uma experiência psíquica passada. Neste acontecimento a pessoa foi apontada como culpada, teve realmente culpa ou sentiu-se assim. Portanto, houve um evento durante o qual o paciente fez alguma coisa que não deveria ter feito. Em estado de hipnose, o terapeuta faz regressão de memória até encontrar a criança interior com o sentimento de culpa que está sendo tratado na sessão", explica Jarbas.
Para o mestre em Dakshina Tantra Yoga, Alexandre Perlingeiro, somente os ocidentais poderiam sofrer com a culpa, pois essa noção que temos desse sentimento simplesmente não existe no Oriente. De acordo com Perlingeiro, nós, ocidentais, estamos imersos no Cristianismo e no Judaísmo, religiões em que a culpa está fortemente presente. "Recebemos de nossos antepassados a culpa pelo pecado original que foi passado de geração em geração. Por causa das transgressões do primeiro casal humano, todas as gerações pagam o preço", opina o mestre.
Para Perlingeiro, o foco das filosofias orientais está no aprendizado. Desta forma, isso deveria retirar qualquer estresse ou carga negativa sobre o erro. "De que serve a culpa? Quando nos sentimos culpados ficamos paralisados à espera de um salvador que venha nos redimir de nossos pecados. A culpa é um instrumento de dominação", afirma Perlingeiro.
Uma palavra também pode aliviar muito o sentimento de culpa. Basta pedir desculpa."
Autora: Andréa Guedes http://www.maisde50.com.br |