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1 de agosto de 2014

A grama do vizinho é sempre mais verde? por Diogo Antônio Rodriguez


 
"Existe um provérbio muito popular por aqui e também em países que falam a língua inglesa que diz o seguinte: "A grama do vizinho é sempre mais verde". A frase serviu como inspiração para essa capa de vida simples.

O provérbio foi também, há alguns anos, inspiração - e objeto de estudo - do psicólogo americano James R. Pomerantz, que resolveu checar, por meio de vários métodos, como percepção ótica e psicologia, se a frase é, de fato, verdadeira.

As conclusões de James Pomerantz são curiosas, para dizer o mínimo. Levando em conta o ângulo que uma pessoa forma em relação à própria grama e à do vizinho quando olha, ele deu um jeito de explicar se há realmente uma grama mais verde do outro lado da cerca. Qual foi a conclusão do estudioso? Vamos deixar isso para mais tarde, para o fim do texto. E continuo com outra pergunta: Realmente importa saber se as pequenas folhas têm coloração mais intensa aqui ou acolá? E se olhássemos para esse dito popular procurando entender outras coisas
a seu respeito, como, por exemplo, prestar atenção ao que ele diz sobre nós?
Sim, inveja
Acharmos que a grama do vizinho é mais verde do que a nossa é algo que pode ser traduzido em um termo mais claro: inveja. Sim, olhar para algo que pertence a outra pessoa e nos sentirmos mal porque ela tem algo, acreditamos nós, melhor do que o
que temos. Ou que não temos. "A definição budista sobre a inveja é que ela é uma sensação desagradável que a gente tem quando observa pessoas experimentando prazer, virtude ou boa sorte", diz o monge Gen Kelsang Tsultrim, professor residente do Centro de Meditação Kadampa Brasil.

Portanto, uma das características da inveja é voltar nosso olhar para as outras pessoas focando em coisas e características delas que gostaríamos de ter. Mas algo na definição do monge Tsultrim chama a atenção. Se inveja é sentir desconforto quando outros sentem prazer ou boa sorte, o que isso diz sobre nós? A grama do vizinho é mesmo mais verde? E por que nos importamos tanto com esse tipo de coisa?
Segundo o rabino Nilton Bonder, em seu livro A Cabala da Inveja (editora Rocco), a inveja não só nos deixa incomodados com as vantagens que alguém recebe, como também nos faz criar "enormes estruturas de injustiça em nossas mentes". Além de nos sentirmos mal com o sucesso do outro, criamos uma explicação do porquê disso
ter acontecido com ele e não conosco.
 
 Deduzimos, inconscientemente, que éramos nós os verdadeiros merecedores de tais benesses. Nos sentimos deixados de lado, esquecidos pelo Universo. "O invejoso se sente incompreendido, ele acha que o mundo lhe deve alguma coisa", explica o psicólogo e escritor Alexandre Bez, autor de Inveja - O Inimigo Oculto (Juruá Editora). Assim, começamos a alimentar uma raiva direcionada a quem conseguiu algo que queríamos ter. Nasce uma inveja.

Pronto, a inveja está ali instalada, mesmo que a gente ainda não tenha se dado conta disso. E ficamos matutando, tentando encontrar uma explicação para aquele incômodo. A primeira reação é negar esse sentimento. E construir uma justificativa mais ou mesmo assim: "não é inveja, mas eu queria tanto aquela (complete aqui com qualquer coisa boa). Lutei muito por isso, sou aplicado, me esforço, e justo ele/ela foi conseguir? Realmente não é justo".

Cair nesse raciocínio não custa muito. O perigoso disso é que, a partir daí, pode-se justificar muitas coisas danosas para nós e os outros. Afinal, se estamos sendo injustiçados, temos de nos defender, não é? Mas e se a injustiça for falsa? E se o Universo não estiver em dívida com a gente? O monge Gen Tsultrim explica: "Parece que a inveja é causada de fora para dentro: alguém me fez sentir raiva, alguém me fez sentir inveja". Tal percepção é, no entanto, enganosa, observa ele. "Na verdade, é um movimento essencialmente interno e da pessoa que está sentindo, não é de fora", completa Tsultrim.

O psiquiatra e psicoterapeuta José Toufic Thomé, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, destrincha esse percurso interno. "Tenho dois caminhos: ou ataco meu objeto de desejo, desqualificando, desvalorizando, ou eu me sinto destruído por aquilo, me consumo na minha inveja. É como aquela expressão popular `comer o próprio fígado", diz.

Motivos para invejar não faltam. Três tipos de coisas, aponta o monge Gen Tsultrim, são combustíveis para esse sentimento: posses, qualidades e o conhecimento. E o que dizer dos dias de hoje, quando todos querem expor o que há de melhor em suas vidas? As redes sociais, tão pródigas em nos conectar e manter informados, são, dessa forma, um terreno bastante fértil para a semente da inveja.

Um estudo de duas universidades alemãs - Tur e a Técnica de Darmstadm - mostra o porquê de o Facebook não querer incluir um botão "descurtir" em sua plataforma. Seiscentas pessoas foram entrevistadas e um terço delas (33%) disseram que se sentem inferiores depois de olharem o perfil de amigos ou colegas. O que mais incomodou, segundo a pesquisa, foram fotos de férias, de atividades sociais e ficar sabendo de conquistas e do sucesso dos outros. De acordo com o artigo publicado pelos pesquisadores, "a disseminação e
a onipresença da inveja nas redes sociais enfraquecem a satisfação dos usuários em relação a suas vidas".

Faz sentido, já que a vida dos "conhecidos", até pouco tempo atrás, não era tão acessível assim. Agora, basta abrir uma rede social para ficar sabendo de tudo o que os outros querem divulgar: novos empregos, viagens, relacionamentos. O tempo todo temos um lembrete de como os outros estão, e olhamos para as nossas vidas e pensamos se não poderíamos estar melhor.
Comparações
A inveja é um sentimento humano tão antigo que está no Velho Testamento. Um dos exemplos mais famosos é o de Caim, que matou seu irmão Abel. Segundo conta o texto do livro Gênesis, Caim ficou furioso porque, quando ambos os irmãos fizeram oferendas a Deus, apenas a de Abel foi reconhecida. Essa sede por recompensas pode não ser nova, mas as transformações que o mundo vem sofrendo desde o século 16 têm contribuído para que sintamos cada vez mais necessidade de nos comparar aos outros - e acabamos sofrendo mais por isso.

Mas, afinal, por que nos comparamos tanto? Comparar é um ato que pressupõe haver algo de similar entre duas coisas. Por exemplo: Podemos ir a dois supermercados diferentes para saber quanto cada um cobra pelo quilo do tomate. O preço pode ser diferente,
mas o tomate é, essencialmente, o mesmo. Não somos tomates, claro, mas esse ato de olhar para o outro e seu "preço" tem a mesma lógica: somos basicamente iguais àquela pessoa. O que nos diferencia, então, é a "etiqueta" colada em nós.

Para entender melhor o porquê de nos compararmos, temos de entender que nem sempre as pessoas se consideravam iguais. Na Antiguidade, por exemplo, até antes da época em que a Bíblia foi escrita, a noção de igualdade era diferente da que temos hoje. O filósofo suíço Alain de Botton mostra que, na Grécia, a desigualdade entre as pessoas era uma coisa natural. Em seu livro Status Anxiety (em tradução livre, Ansiedade por status), de Botton relata que o filósofo Aristóteles (384 - 322 a.C.) via a escravidão como algo normal. "Só no meio do século 17 é que o pensamento político começou a contemplar o igualitarismo", escreve. Até então, o mundo era um lugar dominado por monarquias e aristocracias. 
Quando a ideia da democracia começou a ficar popular pela Europa e América, a noção sobre as pessoas mudou junto. Antes, pensava-se que as desigualdades entre as pessoas eram naturais e até justificadas pela religião. Com o fim desses regimes políticos, a ideologia passou a ser de oportunidade igual para todos, já que todos seriam essencialmente iguais. "Nas democracias, a atmosfera da imprensa e opinião pública incessantemente sugeria aos servos que eles poderiam alcançar os cumes da sociedade. E que poderiam se tornar donos de indústrias, juízes, cientistas ou presidentes", observa o filósofo. Teoricamente, a partir do momento em que a democracia se tornou o ideal da sociedade ocidental, qualquer um poderia ser o que quisesse. Só dependeria do próprio esforço.

Há mais liberdade e, ao mesmo tempo, menos referências de como devemos viver. O rabino Nilton Bonder escreve que "quando instituições e ideologias enfraquecem, não temos em que investir nossas vidas, a não ser no crescimento pessoal". "Se por um lado este é um movimento extremamente enriquecedor para a humanidade, por outro pode tornar-se um grande retrocesso, pois não é difícil encontrarmos verdadeiras multidões que compreendem erroneamente o investimento pessoal como sendo um verdadeiro bem. Desejam "ter crescimento, em vez de vivê-lo", afirma Bonder. Alain de Botton concorda com a ideia: "Só nos consideraremos afortunados quando tivermos o mesmo que, ou um pouco mais que, as pessoas com quem crescemos, trabalhamos, somos amigos e nos identificamos na área pública".

Uma busca incessante por esse sucesso entre nossos iguais nos leva a um ressentimento específico quando a inveja desfere sua picada. Vivendo entre iguais e nos comparando incessantemente, vamos nos sentir mal quando olharmos para aqueles que estão mais próximos, pessoas com quem podemos nos comparar.
 
A neurociência também explica
Em um estudo publicado pela revista Nature, o Instituto Nacional de Ciências Radiológicas do Japão identificou no cérebro humano a manifestação dainveja. Usando ressonância magnética, verificaram que a sensação provocada é interpretada por nós de maneira similar a uma dor física. Além disso, notaram que isso só aconteceu quando os 90 voluntários se compararam com pessoas similares a eles, que tinham recebido algum benefício material ou de status.

Se invejar é algo, digamos, natural, como não deixar que nossos desejos individuais se transformem em um vetor de negatividade apontado para aqueles que estão recebendo algo bom? Em primeiro lugar, é preciso ter consciência. "O melhor é reconhecer que estou invejando e aí tentar aceitar esse sentimento: ter condição de conviver com isso sem me atacar ou atacar o outro", diz o psiquiatra e psicoterapeuta José Toufic Thomé. Claro que isso é difícil, mas não devemos fugir e, sim, encarar nossos sentimentos, por mais obscuros que sejam.

"Apesar de a inveja ser real, ela não representa necessariamente que desejamos mal à pessoa com quem tivemos dificuldade de compartilhar a alegria", afirma Nilton Bonder. E o segredo é simples. "O oposto disso é o regozijo", ensina o monge Gen Tsultrim. "É uma prática muito encorajada no budismo. É você ficar feliz quando alguém desfruta prazeres." Em ídiche, relata Bonder em seu livro, existe uma palavra
para descrever essa atitude: farinem, que significa "compartilhar prazer".

Compartilhar a felicidade do outro é deixar de lado nosso egoísmo e considerar o ponto de vista de quem tem o que comemorar. Em vez de lamentarmos o fato de não sermos agraciados pela mesma facilidade, melhor é se juntar à festa.

E como fica a pergunta do início do texto? Afinal, a grama do vizinho é ou não mais verde que a nossa? Pomerantz descobriu que sim: o jardim do outro lado da cerca brilha com uma cor mais intensa do que a nossa. Ao olhar para a nossa própria grama, por entre as folhas, vemos também a terra marrom, que "dessatura" o verde, fazendo com que ele fique mais fraco. Quando olhamos para o vizinho, no entanto, o ângulo não deixa que vejamos a terra, só as folhas, o que fortalece a percepção do verde.

A grama do vizinho é sempre mais verde pelo mesmo motivo que a vida dos outros parece, não raramente, melhor do que a nossa: porque estamos presos ao nosso próprio ponto de vista. Sempre haverá algo que pareça melhor, mais bonito ou ainda mais colorido. Temos é de aceitar as nossas bênçãos para não perdê-las de vista. Talvez o nosso vizinho não concorde conosco. Será que se perguntarmos a ele, vai achar que a grama dele é tão verde assim? Será que não vai achar que a sua é a mais verde?
"


Diogo Antonio Rodriguez
é jornalista e cientista social, escreve para vida simples há dois anos
Fonte:
http://vidasimples.abril.com.br/temas/grama-vizinho-sempre-mais-verde-760636

25 de junho de 2012

Ao Amadurecer...por Martha Medeiros


"Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco.
Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.

Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso?

Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, Antônio Cícero, uma música que dizia:
"Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento".
Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite.

É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser.
Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes... Falsos sorrisos...

Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das angústias.
Pra consumo externo, todos são belos, sexy, lúcidos, ricos, sedutores.

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo".

Nesta era de exaltação de celebridades fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça.Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros,fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia.

Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé?

Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.
As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento!"

Martha Medeiros

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