"O preço do controle é a eterna vigilância. E esse estado de atenção tenso e preocupado causa um enorme desgaste emocional. Uma vida assim engessada também pode ficar cinza e monótona, e se tornar um grande convite à depressão e ao desânimo.
Para o controlador, não há espaço para que as coisas se modifiquem. Nem criatividade para buscar novas soluções diante do inesperado. Segundo a psicoterapeuta Irene Cardotti, "o controle vivenciado dessa maneira, rígida, férrea, está baseado apenas no desejo de manipular pessoas e situações em nosso próprio benefício", avalia a psicoterapeuta Irene Cardotti.
Uma boa maneira de se deter é enxergar nas atitudes de uma pessoa próxima o próprio jeito de ser e reagir. Enxergar as manias, o amor a detalhes, o perfeccionismo e a eterna tensão num outro controlador ajuda a nos conscientizar de nossas próprias características. A aparência física também dá pistas preciosas: músculos tensos e rígidos, peito projetado para a frente, maxilar travado ou corpo muito denso podem igualmente indicar sinais de um controlador contumaz, avalia Irene, que também é especialista em bioenergética.
Mas por que será que somos assim?
Duas emoções básicas movem o comportamento humano: o medo da dor e o prazer. E elas também alicerçam o nosso desejo de controlar. "Queremos manipular por medo de que as coisas fujam do nosso controle e nos causem sofrimento. O que não percebemos é que esse desejo nos aflige tanto ou mais do que o sofrimento que teríamos se deixássemos as coisas tomarem seu próprio rumo", diz Irene.
Ao mesmo tempo, desde os primórdios da psicanálise, seu criador, Sigmund Freud, afirmava que o controle também tinha a ver com o prazer em exercer poder. E alguém que domina e controla uma situação pode obter muita satisfação com isso.
A questão é que essa sensação que nos alivia se baseia numa ilusão: a de que realmente conseguimos controlar a vida. A existência, porém, se revela bem mais indomável e resistente do que podemos imaginar.
É possível que estejamos sob o jugo de forças e leis capazes de tirar o controle de nossas mãos, especialmente quando não as conhecemos direito. "Acredito que seja importante planejar a vida, se o fizermos de olhos bem abertos. Devemos identificar e agradecer a sorte que temos e reconhecer os eventos aleatórios que contribuem para o nosso sucesso", diz o professor e matemático norte-americano Leonard Mlodinow, que escreveu um livro, O Andar do Bêbado, onde analisa algumas das leis pouco conhecidas que atuam na nossa vida, como a da aleatoriedade.
Se engessamos a existência na maneira como achamos que as coisas devem acontecer, diminuímos as chances da aleatoriedade, ou o acaso, se manifestar - uma perda lastimável, de acordo com Mlodinow. "Acho que o universo é bem mais criativo do que eu. Planejo, organizo, faço cálculos mas, se observo uma mudança de rumo, não a descarto imediatamente. Primeiro vejo se o quadro geral pode se beneficiar com ela. O engraçado é que na maioria dos casos a interferência se revela positiva", afirma o analista de sistemas Celso Ayres.
Outra lei que é a maior casca de banana em nossos desejos de manipulação é a polêmica Lei de Murphy. Pode anotar no seu caderninho: quando o controle é excessivo, o tiro sai pela culatra.
Perdemos a sabedoria de que existe o momento de assumir responsabilidades, planejar, organizar e realizar. Mas que também pode haver outros para soltar as rédeas, relaxar, criar e aprender com o que se apresenta. E que é saudável ter essa possibilidade bem presente e viva nas nossas escolhas e decisões. Deixe acontecer - pelo menos de vez em quando, claro."
Liane Alves
http://vidasimples.abril.com.br/temas/pare-querer-controlar-tudo-622783.shtml?