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8 de julho de 2012

Você já percebeu o quanto a existência tem dado a você?



"Perguntaram a Osho:
"Querido Osho,
como pode o mestre ajudar o discípulo a viver a religiosidade sem religião?"

"Essa é a coisa mais simples do mundo.

O inverso é o mais difícil: é quase impossível ser religioso e fazer parte de uma religião organizada. Mas, apenas ser religioso, sem fazer parte de qualquer religião é a coisa mais simples.

Você tem que entender o que religiosidade significa para mim. Para mim, religiosidade significa uma gratidão para com a existência. Ela lhe deu tanto que não há como você reembolsá-la. 

Ouvi contar...

'Um homem ia cometer suicídio e um mestre estava sentado à beira do rio onde ele ia se jogar.

O mestre disse: ‘Espere um pouco! Espere! Você vai cometer suicídio?’

O homem disse, ‘Quem é você para me impedir?’

O mestre lhe disse, ‘Eu não estou impedindo você. Na verdade, eu gostaria de vê-lo cometendo suicídio, mas antes de fazê-lo, se você puder doar os seus dois olhos, porque o rei deste país ficou cego e os médicos disseram que se alguém puder doar-lhe os olhos, eles poderão ser transplantados e o rei poderá enxergar novamente.
 Mas tem que ser olhos de uma pessoa viva, não de um morto. E o que você quiser como recompensa, como prêmio, é só dizer e será seu. Assim, antes de suicidar, por que não fazer um pequeno negócio?’

O homem disse, ‘Quanto ele pagará?’ 
Ele já havia esquecido o suicídio. As pessoas estão sempre pensando em negócios.

O mestre disse, ‘O quanto você pedir, é só dizer.’

Ele disse, ‘Eu sou um pobre homem, não posso pedir muito. Dê-me uma sugestão. Eu vou cometer suicídio.’

Então o mestre disse, ‘Pense alto. Que tal, vinte mil rúpias?’

O homem disse, ‘Vinte mil rúpias? Meu Deus, eu nunca pensei que poderia ter vinte mil rúpias.’

Mas o mestre disse, ‘Você ainda pode pensar. Eu posso até mesmo dizer ao rei que você precisa de vinte milhões. Tudo depende de você, pois o rei quer os olhos e paga qualquer preço.’

O homem disse, ‘Vinte milhões? Mas então, por que eu deveria cometer suicídio?’

O mestre disse, ‘Isso é com você. Mas, viver uma vida sem os olhos, mesmo tendo vinte milhões de rúpias, não será muito agradável.’

Já estavam a caminho do palácio, quando o homem começou a dizer ao mestre, ‘Eu estou pensando outra coisa.’

Ele disse, ‘Que outra coisa? Você já subiu o seu preço de novo?’

Ele respondeu, ‘O preço não é a questão. Eu estou pensando: só por dois olhos, vinte milhões? E quanto às duas orelhas, o nariz, os dentes, todo o meu corpo? Qual o preço de todo o meu corpo?’

O mestre disse, ‘Você pode calcular, pois se são vinte milhões por apenas dois olhos...’

O homem disse, ‘Eu não vou vender. Eu vou para a minha casa.’ O mestre disse, ‘E quanto ao suicídio?’

Ele disse, ‘Eu pensava que você era um homem religioso. Você é um assassino! Você quer que eu cometa suicídio? Agora que pela primeira vez eu pude reconhecer o que a existência me deu, e eu não tive que pagar nem um tostão. Estes dois olhos que têm visto todo tipo de beleza, estas duas orelhas que têm ouvido todo tipo de música, esta vida que tem experienciado tanta coisa...
 E eu nada paguei por isto, nem mesmo disse muito obrigado. 
E o suicídio nada mais é que a última reclamação, a mais feia reclamação contra a existência: ela me deu tanto e eu estou destruindo tudo. Ao invés de estar agradecido, eu estou traindo. Não, eu não posso cometer suicídio e não posso vender os meus olhos, eles não têm preço. Você pode dizer isso ao rei. Nem mesmo por todo o seu reino eu não posso doar os meus olhos, mesmo sendo eu um mendigo.’

Você já percebeu o quanto a existência tem dado a você?

Não, você tem isso como certo, como se você tivesse feito por merecer, como se tivesse sido uma conquista sua.

Você não fez por merecer. Não foi algo que você conquistou. É um presente, é uma bênção, é simplesmente um ato de amor da existência ter-lhe dado tanto. E ela está pronta para lhe dar muito mais. Você é que não está pronto para receber.


Osho, em "The Osho Upanishad"

27 de maio de 2011

O que NÃO está errado? de Thich Nhat Hanh

 
"Muitas vezes perguntamos: "O que está errado?”  Ao fazê-lo, convidamos dolorosas sementes de mágoa a se manifestarem. Sentimos depressão, raiva, sofrimento e produzimos mais sementes dessa natureza. Seríamos muito mais felizes se tentássemos nos manter em contato com as sementes saudáveis, alegres, dentro de nós e à nossa volta.

 Deveríamos aprender a perguntar, "O que Não está errado?" e a manter contato com a resposta. Há tantos elementos no mundo e no nosso corpo, sentimentos, percepções e consciência, que são saudáveis, revigorantes e medicinais. Se nos bloquearmos, se ficarmos na prisão da nossa tristeza, não entraremos em contato com esses elementos salutares.

A vida está repleta de maravilhas, como o céu azul, a luz do sol, os olhos de um bebê. Nossa respiração, por exemplo, pode ser muito prazerosa. Eu aprecio minha respiração todos os dias. Muitas pessoas, porém, só descobrem a alegria de respirar quando têm asma ou nariz entupido. Não precisamos esperar uma crise de asma para apreciar nossa respiração. A mente alerta para os preciosos elementos da felicidade é em si a prática da correta conscientização.

Esses elementos estão dentro de nós e ao nosso redor. Podemos apreciá-los a cada segundo das nossas vidas. Se agirmos assim, serão plantadas em nos sementes de paz, alegria e felicidade, e elas se fortalecerão. O segredo da felicidade é a própria felicidade. Onde quer que estejamos, à hora que for, temos a capacidade de apreciar o sol, a presença do outro, a maravilha da respiração. Não temos de viajar para nenhum lugar para isso. Podemos entrar em contato com esses elementos neste exato instante.

Quando plantamos alface e ela não cresce bem não pomos a culpa na alface. Investigamos os motivos que a levaram a não se desenvolver. Pode ser que ela precise de mais adubo, mais água ou menos sol. Nunca pomos culpa na alface. No entanto, se temos problemas com nossos amigos ou com nossa família, culpamos os outros.

 Se soubermos como cuidar das pessoas, elas também se desenvolverão como alface. A culpa não produz nenhum efeito positivo, da mesma forma que as tentativas de persuasão pelo raciocínio e pela discussão. Essa e a minha experiência. Nada de culpa, nada de raciocínio, nada de discussão; apenas a compreensão. Se compreendermos e demonstrarmos que compreendemos, o amor se torna possível e a situação se modifica.

Um dia, em Paris, dei uma palestra sobre a ausência de culpa da alface. Depois da palestra, estava só, em meditação andando, quando virei uma esquina e ouvi uma menina de oito anos falando com a mãe, "Mamãe, lembre-se de me regar. Eu sou a sua alface." Fiquei extremamente feliz por ela ter compreendido tão bem minha mensagem. Ouvi, então, a resposta da mãe. "E, minha filha, e eu também sou sua alface. Não se esqueça de me regar também." A mãe e a filha praticavam juntas. Foi muito bonito.

A compreensão e o amor não são dois sentimentos, mas um só. Imagine que seu filho acorda um dia de manhã e vê que já é bem tarde. Ele resolve acordar a irmãzinha para que ela tenha tempo de tomar o café da manhã antes de ir para a escola. Acontece que ela está de mau humor e, em vez de lhe agradecer pelo fato de tê-la acordado, ela lhe diz para calar a boca, deixá-la em paz e lhe dá um pontapé. É provável que seu filho se zangue, pensando, "Fui gentil ao acordá-la. Por que ela me chutou?" Ele pode sentir vontade de ir até a cozinha para lhe contar tudo, ou até mesmo pode revidar.

No entanto, quando ele se lembrar que durante a noite a irmã tossiu muito, perceberá que ela deve estar doente. Talvez ela tenha se comportado de forma tão intratável por estar resfriada. Nesse momento, ele compreende, e sua raiva desaparece. Quando compreendemos, não podemos deixar de amar.

 A raiva não nos atinge. Para desenvolver a compreensão, é necessário que pratiquemos a atitude de ver todos os seres humanos com os olhos da compaixão. Quando compreendemos, amamos. E quando amamos, agimos naturalmente de forma que amenize o sofrimento das pessoas."

Thich Nhat Hanh, in Paz a cada passo

13 de fevereiro de 2011

O Limiar - de Luiz Antônio Trevizani

"Sinto como se estivéssemos atravessando uma zona neutra, um espaço ou tempo vago, e custo a manifestar esse sentimento porque me faltam palavras. 

Esse vago espaço imaginário, parece ser o limiar de um novo tempo, ou de uma nova consciência, e parece ser muito mais abrangente que só a mim. 

Observo que muitas outras pessoas sentem o mesmo. O mundo será mesmo melhor daqui a algum tempo, ou será que estamos desejando apenas sair de nosso estado de sono inconsciente? Um mundo novo, melhor que o atual, só pode existir se o ser humano assim se transformar. 

Olhando para trás, percebo pouca consciência em quase tudo o que fiz. Quanta bobagem eu fiz reagindo com meus "impulsos bioquímicos" e sem consciência! Talvez por isso eu escrevo e falo de consciência, provando que a gente sempre fala, escreve e manifesta com mais ênfase aquilo que mais necessita aprender, ou que mais deseja aprender - inconscientemente. 

Percebo isso muito claramente em terapia. Meus clientes são meus mestres e espelham com grande fidelidade aquilo que preciso aprender e compreender de mim e da vida. Sou grato a todos que me ensinam espelhando minhas deficiências morais e espirituais.

E a consciência?

A consciência possui vários aspectos, de acordo com várias linhas de pensamento filosófico, cientifico e espiritualista, mas a experiência pessoal é única e muitas vezes não segue exatamente aquilo que se espera. 

Talvez a melhor definição para o vago momento seja a busca por uma compreensão da espiritualidade mais concreta na realidade do mundo. Minha divagação não justifica nada, e sim reflete o momento de transição, no qual, ora me vejo crítico demais, ora condescendente demais. 

Divagar é bom porque não me obriga a ter respostas prontas para tudo, e me permite explorar o universo humano e espiritual sem preconceitos, e a alma se fortalece no espírito que consegue extrair dos elementos da natureza forças espirituais e materiais que lhe enriquecem a consciência. 

Deixemos de lado conceituações e consideremos consciência como um estado de observador diante da vida, da realidade, das nossas sensações e sentimentos, do nosso corpo, do nosso conhecimento, de tudo. 

Consciência pode ser a luz do espírito refletida sobre a realidade, a nossa percepção mais aguçada e profunda. 

Consciência pode ser um estado de reflexão permanente; uma visão abrangente da realidade, da luz e da sombra que somos, e nossas ações passam a não serem mais reações impulsionadas pela sombra somente, e sim ações refletidas em luz sobre a sombra. Podemos dizer que consciência é a nossa luz, a luz espiritual que abrange o alcance da alma; que une os dois lados da nossa alma – luz e sombra. 

E o sofrimento?

A importância que damos às coisas as tornam mais ou menos valorizadas para nós. É assim que muita gente é feliz, enquanto outros sofrem. Dor faz parte da vida. Da dor de um ferimento ou doença, à dor de crescimento espiritual - todos nós sentimos dor. Sofrer é uma opção de cada um e está relacionada ao grau de importância que damos à dor. 

Do mesmo modo, a relação nossa com os “problemas” está na importância que damos aos pensamentos negativos sobre o fato que gerou o problema. Problemas são apenas pensamentos, não são concretos, e refletem a nossa incapacidade de lidar com determinado fato. 

No fundo, revela nosso apego demasiado e falta de aceitação de uma realidade, e envolvimento demais com o fato, que não nos permite lançar luz sobre ele. 

O envolvimento e a demasiada importância ao fato gerador do problema dificultam o distanciamento necessário para a observação neutra – a zona da consciência. Sofremos por sermos inconscientes.

E o viver feliz?

Milhares de livros com receitas de como ser feliz e bem sucedido na vida são publicados ao redor do planeta. Vivemos tempos de super valorização da informação. 

No século passado, e neste que está em sua primeira década, aprendemos a conviver com a informação, mas perdemos um pouco da nossa essência e nos afastamos um pouco da nossa natureza, porque acreditamos demais na informação sem usar de nosso senso crítico e discernimento, e de nossas experiências pessoais para transformar informação em conhecimento.

Temos pressa e digerimos tudo o que vem como verdadeiro, mas a informação só se transforma em conhecimento quando a levamos para algum tipo de experimento pessoal. Assim, uma vida longa, saudável e feliz quase sempre está dissociada do excesso de informação, e mais próxima de uma experiência pessoal natural. 

A maioria dos casos de longevidade apresenta um modo de viver simples e natural, e a maioria das pessoas que alcançam longevidade são pessoas que não tem acesso a muita informação, ou são seletivos com ela, ou que dão mais importância ao seu conhecimento e respeitam a sua natureza; pessoas que não têm um cardápio com reservas de calorias, nem seguem um manual de boas maneiras prescrito por outros. 

Simplesmente seguem o coração e cultivam uma alma esplendorosa e generosa; amam a vida, as pessoas, a natureza e a si próprios acima de tudo.

E agora?
Agora, simplesmente sejamos felizes, seguindo nosso coração, que é o centro gerador das energias psíquicas com as quais o espírito forma e sustenta a nossa alma. O manual do bem viver e todos os roteiros e receitas estão gravados em nosso coração. 

A vida se manifesta fluindo por nosso coração, e até mesmo o Divino, que insistimos em buscar fora de nós, está em nosso coração. Um ser consciente possui um coração gerador de energias amorosas. 

Um coração gerador de energias de ódio só cabe no peito de um ser que ainda possui apenas mínima consciência daquilo que lhe é útil ao ego. Como é o seu coração?
Grato por sua atenção!" 
 
Fonte:http://www.luzdaconsciencia.com.br/

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